Meus escritos

Os textos aqui publicados são de autoria da professora Jocelene Trentini Rebeschini (Especialista em Práticas Pedagógicas Interdisciplinares com Ênfase em Produção Textual)






Leitura: um caso de amor

Talvez o meu mais sutil e distante contato com as letras tenha sido provocado por quem pouquíssimas letras tinha. Lembro-me de uma determinada época em que meu pai, homem que não teve estudo, um descendente de italiano que se atrapalhava nos "erres", gostava muito de passar as poucas horas de folga em que estava em casa deitado no sofá com uma revistinha de palavras cruzadas nas mãos. Às vezes ele interrompia alguma brincadeira em que eu estava metida para pedir uma ajuda na solução da palavra, outras vezes a revistinha ficava por ali, convidativa, e eu a furtava para resolver aquilo que para mim eram grandes problemas. Meu pai nunca me repreendeu por ter resolvido algum diagrama, ou por ter acertado a charada, ou ainda por ter solucionado uma cruzadinha. E continuamos por muito tempo assim... sócios nas revistinhas. Nesse tempo, eu já estava alfabetizada, mas não me recordo de experiências com leitura na escola, talvez porque elas não tenham sido significativas, ou talvez porque elas não estivessem motivadas por uma relação de afinidade, de sentimento, de troca, de afetividade, tanto quanto era aquela experiência de leitura e escrita que eu conseguia manter com meu pai.


Eu fui crescendo e a essas primeiras experiências com as letras foram se somando outras. Como um dia em que a minha mãe chegou com um livrinho da cachorra Lassie em casa. Durante um bom tempo, aquele foi o meu tesouro. Não era um livro grosso, era fininho, tinha imagens grandes e coloridas, mas a história era tão linda, cativante, que aquele livro me acompanhava por onde eu ia. Eu relia, olhava as páginas de novo... Queria outros, ia junto com minha mãe fazer as compras da casa e sempre ficava na expectativa de ganhar mais um. Lembro-me de uns livros grandes, coloridos, mas custavam caro... mamãe não podia comprar. Eu me conformava, nunca contestava, sabia que o nosso dinheiro era contadinho para a comida e algumas necessidades. Contudo, teve um Dia da Criança, não me recordo bem, acho que lá pelos meus dez anos, em que eu pude escolher um livro. E eu não pensei duas vezes: resgatei da prateleira e trouxe feliz da vida para casa A ilha perdida, que durante muito tempo povoou o meu imaginário. Eu me via na pele daquelas crianças, vivendo a aventura de ir até a ilha e conhecer um estranho que morava lá... A minha imaginação não tinha limites, eu sempre inventava, nas minhas aventuras, algum detalhe que não estava lá no livro... Foram meses relendo e reinventando aquela história, que era alimentada pelo ambiente onde eu morava. Na época, minha família vivia em Itaguaí, uma pequena cidade do Rio de Janeiro, no interior, com praias calmas, algumas ilhas e morros muito verdes, cobertos de plantações de bananeiras. Esse cenário era perfeito para dar asas à imaginação, fomentada pela história de Maria José Dupré.


Confesso, porém, que, por mais que tente, não consigo lembrar de leituras na escola, a não ser aquelas comumente feitas em livros didáticos, com trechos soltos de obras literárias. Meu envolvimento com o texto continuou de forma mais sentimental, passei a fazer poemas que ficavam entre mim e mim, e mais ninguém. Lia revistas, alguns jornais, gibis. E alguns livros que fui ganhando de presente de parentes, vizinhos, até uma coleção de dicionários eu cheguei a ganhar de um amigo de meus pais que percebeu o meu gosto pela leitura. Também conseguia ler enciclopédias e outros livrinhos que minha mãe autorizava comprar em promoções que a escola fazia com algumas editoras (dessas em que se vender um determinado número ganha um mapa, se vender mais ganha um livro, etc.)


Já no ensino médio, lembro-me de uma única professora ter pedido uma vez para lermos O guarani, de Alencar. Detestei, achei uma história muito chata, com uma linguagem "nada a ver" um enredo que não me dizia nada: uma branca, fidalga, filha de um nobre, defendida o tempo todo por um índio que nem parecia brasileiro. Eram situações muito distantes da minha realidade: nunca conheci uma fidalga, mansões do tipo em que ela vivia, então, nem posso imaginar até hoje, um índio daquele tipo, mesmo os que têm contato com os brancos, são bem diferentes do Peri descrito na obra. Passei, então, mais uma vez, longe dos livros literários na escola durante o meu ensino médio. Apesar disso, fiquei encantada com os textos de Leonardo Boff que eram discutidos em aula (de Ensino Religioso, Filosofia, Sociologia) e posso dizer que muito do meu senso crítico e da minha sensibilidade como ser humano hoje eu devo a essas reflexões feitas na sala de aula. E confesso a minha frustração novamente com as aulas de Português: eu podia ler, escrever e manifestar minha opinião muito mais em outras disciplinas do que na de Português. Lembro-me de ter feito uma única "redação", sobre o aborto, durante todo o ensino médio.


Por outro lado, minhas leituras de obras literárias eram fomentadas num outro ambiente. Tinha uma vizinha que comprava livros do Círculo do Livro e nessa época eu já trabalhava para ajudar no sustento da casa. De vez em quando, comprava meus livros e trocávamos por empréstimos algumas obras literárias: foi quando eu descobri Pássaros feridosOteloO admirável mundonovo; entre tantas outras obras. Um namorado me fez ler Não matem as flores, de J.M. Simmel; um tio me deu de presente Com licença eu vou à luta; minha chefe no jornal onde eu trabalhava (fui redatora de jornal, porque amava escrever e nessa época eu já escrevia bem), apresentou-me Sidney Sheldon. Foi uma paixão fulminante e dele li várias obras. Logo em seguida descobri o tão criticado Paulo Coelho. Li tudo o que podia dele. Gostei de alguns, outros considerei menos interessantes. Você deve estar se perguntando apavorado: mas e os clássicos? Até então não me fizeram falta, nem para o vestibular. Sei que você deve estar opinando, horrorizado: como um professor de Português e Literatura afirma um absurdo desses? Não me sinto nem um pouco culpada por não ter tido contato com os clássicos nessa época. Só fui descobri-los anos mais tarde, na faculdade de Letras. E aí me apaixonei não por Alencar, nem por Machado de Assis. Penso que o primeiro retrata uma mulher que não existe e, mesmo para a época em que a obra foi escrita, faz falta naquele conjunto todo ver desfilar personagens mais humildes, mulheres de uma classe social que, infelizmente, não foi retratada por ele. E creio que o segundo é muito machista ao mostrar suas personagens femininas. Na obra machadiana, muitas mulheres são traidoras, pouco importando as razões dessa traição. Muitos narradores das histórias machadianas levam o leitor a acreditar que a personagem feminina é uma subvertida, dissimulada, ao passo que o homem é um coitadinho, uma vítima. Mas, voltando ao assunto, nesse tempo minha paixão passou a ser Luís Fernando Veríssimo, Érico Veríssimo, Martha Medeiros, Moacyr Scliar, Mário Quintana, Graciliano Ramos, Marina Colasanti, entre outros. Um time da pesada, e todo nosso, brasileiro, em grande parte gaúcho. Não eram obras que tínhamos o compromisso de ler para apresentar, ou para resumir, ou para resenhar, mas sabiamente meus professores souberam nos envolver em discussões e análises de personagens, questionando de forma inteligente sobre detalhes que talvez sozinhos não tivéssemos percebido. E aí eu entendi: eles só souberam conduzir daquela forma a discussão porque se apaixonaram pelo texto que pediram para ler, porque também eram leitores daquele texto. E leitores que, apesar de já terem suas teses, suas opiniões, queriam ser desafiados por outros leitores, tentando ainda extrair algo de novo daquilo que já conheciam bem. O texto é, dessa forma, como um grande amor: é preciso imaginação, é preciso desafio, é preciso descobrir algo novo nele a cada dia, respeitando a sua integridade. Assim, posso afirmar que passei a observar personagens de determinados autores com outros olhos, porque discuti apaixonadamente sobre eles, porque tive que pensar sobre eles o que jamais pensaria se apenas lesse o livro para fazer um resumo, um cartaz sobre a obra ou um trabalho para apresentar ao professor.


Por tudo isso, penso que não é preciso massacrar o aluno na escola com a leitura de obras que muitas vezes não têm a menor afinidade com eles e as quais, só com o tempo e a maturidade eles terão capacidade para compreender, assimilar. Por outro lado, a escola não pode continuar omissa do seu papel de despertar no aluno o gosto pela leitura, e essa paixão pode partir de onde menos se espera: a minha, por exemplo, partiu da leitura de revistas de palavras cruzadas. O que não podemos permitir é o preconceito de que esse ou aquele tipo de leitura é melhor para o aluno, num país em que temos tão poucas oportunidades de acessar o texto. É papel da escola despertar essa paixão, mas, como um amor que amadurece, é aos pouquinhos que o aluno vai adquirindo a capacidade de gostar desse ou daquele gênero literário, até mesmo de clássicos como Alencar e Machado de Assis. Sugiro, indico, sim, os clássicos para os meus alunos, mas sou bem sincera em expor para eles o tipo de leitura que farão. E não faço "boca torta" quando um aluno me diz que escolheu para ler um livro mais fininho. Tudo tem o seu tempo. Nosso papel, como educadores, é orientar a leitura, inflamar as discussões e as análises, despertando curiosidades e interesses. Penso que essa forma surte mais efeito do que tentar empurrar "goela abaixo" alguns clássicos, muitos deles escritos apenas com o objetivo de preencher o tempo de um público burguês, que precisava de uma leitura de entretenimento. Uma boa alternativa é apresentar os contos dos autores clássicos e extrair deles o máximo, sugerindo, nunca impondo, que naquele mesmo estilo existem outras obras, mais densas, mais complexas.

A leitura é um caso de amor, que precisa ser cuidado, cultivado, cativado; caso contrário, fenece, perde-se na primeira esquina, trocado por um novo amor. Em tempos em que temos tantos outros interesses e formas de cultura, informação e entretenimento, não é nada inteligente pensar que um tipo de texto é melhor ou pior que outro. Ou que somente um determinado grupo de escritores é que deve ser lido. Temos textos diferentes, autores diversos, gêneros diferentes, para todos os gostos e para atender a diferentes necessidades. É só oportunizando a leitura dessa diversidade que o aluno poderá construir a sua própria experiência de leitura, o seu caso de amor com o texto.






Escrever não é arte, é missão técnica para todas as áreas do conhecimento




É lamentável quando algumas pessoas se referem à escrita como uma arte. Até concordo que certos tipos de escrita resultam de um talento artístico, como no caso de um poema, de uma crônica ou até mesmo de um conto, por exemplo. Nesses casos, é preciso inspiração, veia artística. Mesmo assim, esses, como todos os demais tipos de texto, só podem ser escritos com o domínio da técnica da escrita de cada um deles. Caso contrário, o objetivo do autor fica comprometido.
O tema é pertinente porque vejo muitos alunos perdidos quando solicitados a escrever determinados tipos de texto."O que é uma resenha? O que é uma tira? Uma charge? O que é uma sinopse, professora? Profe, como é que faz um resumo?" são algumas das tantas perguntas com que nós, educadores, nos deparamos. E considero uma lástima, para usar uma palavra mais suave, quando um aluno faz uma pergunta dessas para um professor de uma disciplina que não seja a de língua portuguesa, e este responde tranquilamente: "Pergunta pro teu professor de português", como se trabalhar a técnica da escrita, levar o aluno a dominar essa habilidade ou apropriar-se dessa competência fosse uma tarefa exclusiva da disciplina de língua portuguesa... Mais: como se só o professor de português tivesse a obrigação de conhecer diferentes tipos de texto e de trabalhar com a linguagem.
Essa falta de intimidade com a escrita é proveniente, sem sombra de dúvida, da não-relação do aluno com a leitura, e é evidente que a apropriação do texto pelo educando só tem condições de acontecer no contato com o texto. Não existe outra maneira. Não é possível produzir bons textos dissertativos se nunca houve contato com esse tipo de texto ou se o contato é muito esporádico. Entretanto, não basta o contato, é preciso a orientação competente do professor, a capacidade de analisar e explorar o tipo de texto que ele pretende que o seu aluno aprenda e apreenda. A isto se chama dominar a técnica: explorar a estrutura, a adequação da linguagem utilizada, os recursos linguísticos de vocabulário, coesão, coerência, o objetivo do autor, identificar para quem o texto foi escrito, em que época (contexto) foi produzido, quais são as ideologias que embasam o texto e tantos outros itens que podem ser trabalhados, com certeza interdisciplinarmente, ao longo de toda a educação básica.
Abordo essa questão porque vejo a magia do contato com o texto desaparecer como que por encanto da vida de nossos estudantes. O que acontece ao longo da vida escolar que leva educandos e professores a abandonarem o texto? Até aproximadamente o quinto ou sexto ano do ensino fundamental, os olhinhos de nossos alunos ainda brilham ao ouvirem uma história, e a emoção os faz expressar em palavras e imagens opiniões - muito críticas às vezes - sobre o conteúdo lido ou ouvido. Mas, conforme os anos vão passando, essa magia se quebra. Quando chegam ao ensino médio, muitos estudantes não leem qualquer tipo de texto, quando muito olham algumas revistas, assim mesmo dependendo do assunto que elas trazem. Então eu me pergunto: em que momento ocorre essa perda do contato mágico com o texto? Por que ocorre isso? Será porque as leituras ficam restritas às poucas horas semanais da aula de língua portuguesa? (Isso se essa aula não estiver mais comprometida com um ensino conteudista do que com o desenvolvimento da leitura e da escrita competentes, porque nesse caso a leitura e a escrita ficam reduzidas praticamente a zero, dando-se ênfase ao ensino puro de gramática normativa).
Penso que talvez essa perda decorra de uma compartimentalização do ensino, das famosas gavetas em que colocamos os conhecimentos. E aí pensam alguns: ensinar a fazer resenha, produzir uma crônica, fazer uma dissertação é para a gavetinha da língua portuguesa. Que engano! A leitura e a escrita são competências inerentes a todas as disciplinas. É compromisso de todas as áreas do conhecimento. Fazer, por exemplo, o aluno ler, interpretar e até mesmo produzir gráficos com base em pesquisas é uma habilidade que pode ser trabalhada desde a educação física, passando pela matemática e pela geografia. Discutir a questão ambiental também não é proposta dissertativa somente para a aula de língua portuguesa, mas abre caminhos para o trabalho de disciplinas como biologia, educação física, geografia, história, entre outras. No momento em que se exibe um filme ou se recomenda um livro para um aluno não é uma boa oportunidade para trabalhar, em qualquer disciplina, de qualquer série, produção de sinopse, resumo, resenha, ou seja lá qualquer outra produção textual que o professor imaginar (inclusive oral, porque também não podemos acreditar que só tem valor o texto escrito!)?
Poderia citar muitos outros exemplos, mas creio que esses são suficientes para afirmar que a leitura e a produção de textos podem e devem ocorrer em todas as disciplinas, e cabe ao professor que as ministra entender as tramas do texto, mostrar ao aluno o processo de construção dos diferentes gêneros textuais, estimulando a capacidade crítica e criativa do educando. Mas para isso, professor, é preciso render-se aos encantos do texto e, mesmo que de vez em quando, ler, pensar, escrever... Afinal, ninguém consegue incentivar o outro a fazer aquilo em que nem ele acredita.


Uma crônica para o inverno



O outono chegou e os primeiros ventos gelados que preparam o inverno estão soprando. Ao fazerem a curva nas casas, eles uivam, enchendo os ares de um som mágico, congelante...
Tem gente reclamando, ficando encolhida. Eu, ao contrário, gosto. Gosto não... Amo! Porque logo, logo chegará a estação do ano que me torna ao mesmo tempo nostálgica e inspirada. Quando declaro isso, sempre me olham com cara de desconfiados, alguns torcem o nariz, outros manifestam a sua desaprovação dizendo que "tem gosto pra tudo". Felizmente, tem mesmo! Mas, sabe aqueles dias bem frios, de vento gelado e garoazinha fininha batendo no rosto? Pois é quando o tempo está assim que me dá uma coceirinha nos pés e eu tenho mais vontade de sair do ninho e bater perna na rua. Não sou daquelas que curtem o inverno dentro de casa. Gosto do contato com ele. Me sinto mais disposta, mais viva.
Eu sei que tem muita gente que sofre com o frio (mas para quem tem poucos recursos o verão também não deixa por menos). E até nesse momento eu considero que essa estação é propícia para tornar o ser humano melhor. Porque é o frio que nos comove e nos move: somos convidados a estender a mão a quem está precisando, fazemos campanhas por agasalho, comida, abrigo. Que outra estação do ano permite ao ser humano enxergar melhor o seu semelhante senão o inverno? 
E as comidas, então? Quem é que não gosta de comer pratos quentes acompanhado da família, num clima aconchegante? Dá até para incluir no cardápio um saboroso vinho da serra, para aquecer o coração e a casa. Ficam todos mais próximos, nosso senso de proteção é altamente despertado. Dormimos mais agarradinhos, sentamos mais perto um do outro, abraçamos mais.
Os vários dias cinzentos às vezes cedem lugar timidamente ao sol, e aí lagartear é a palavra de ordem. Deixar a fumaça sair da boca, esfregar as mãos, esticar o corpo, sentindo-se renascer. O inverno vem trazendo seus sinais, preparando a natureza para o desabrochar de setembro, uma metáfora que sempre me intrigou: o recolhimento, a aceitação das intempéries, talvez a morte, para a posterior descoberta: o colorido, o desabrochar, o renascimento...
Abril de 2012




Exibicionismo virtual

Confidências?! Segredinhos?! Que nada, é melhor que o mundo inteiro saiba, curta, compartilhe, comente,  enfim nada de ficar só entre nós duas, ou nós dois...
Não posso negar que é irresistível . Passar por este mundo e não participar das redes sociais ou não “estar” na rede é quase que viver em isolamento. Porém, confesso que me preocupam alguns exageros: dar um click a cada minuto (ou hora que seja) para contar o que está fazendo, e outros comentando, curtindo, compartilhando aquilo que é para ser  tão íntimo torna-se, muitas vezes, constrangedor para outros.
Leio as postagens e vejo algumas imagens, especialmente nos sites de relacionamento, que me deixam literalmente ruborizada. Não sei se sou antissocial ou se sou jurássica, no entanto um dos valores que tenho é o respeito. Por mim e pelos outros. E uma coisa que a minha mãe e meu pai me ensinaram – não para me reprimir, mas para me resguardar de certas atitudes desnecessárias –  é ter vergonha. Vergonha na medida certa, para ser usada quando necessário. Vergonha na cara. Está aí: respeito e vergonha, duas palavras que andam meio esquecidas, desatualizadas, quase deletadas de nossas vidas.
Sou de um tempo em que escrevíamos diários (não os virtuais), com segredinhos que só revelávamos a ele, o qual ficava muito bem escondido (ou até chaveado). Deus me livre alguém ler algum daqueles pensamentos lá deixados (não que eles não fossem inocentes) ou até mesmo saber do beijo que foi dado às escondidas.  Muito do que nossos queridos diários guardavam, nem mesmo as amigas ou amigos mais íntimos sabiam. Éramos nós e eles (os diários).


Hoje é mais do que “normal” não esconder nada: mostrar a todo instante uma nova foto que digitalizou, postar palavrões, dar alfinetadas de mau gosto, mas, principalmente,  escancarar sentimentos, exibir intimidades... e quanto mais escandalosas ou quanto maior a quantidade de exibições, melhor. Não sei, sinceramente, aonde isso tudo vai nos conduzir, afinal censura é uma palavra da qual não gosto muito, mas creio que um pouquinho de bom senso não faz mal a ninguém, principalmente em tempos em que liberdade de expressão – uma conquista tão árdua e valiosa – está sendo confundida com liberdade de exibição, no mau sentido, é claro.


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